Se há uns anos me dissessem que escolher o nome de um filho seria um filme com direitos a nervos com calores nas costas e discussões diversas de me saltarem os olhos das órbitas (deve ser das hormonas), diria "que exagero!". Mas não é fácil, sobretudo porque gosto de muitos poucos nomes. Pior, associo os nomes às pessoas, da mesma forma que associo perfumes e cheiros, pelo que há nomes que racionalmente até gosto, mas depois na prática não consigo ponderar.
Isto é um assunto que já deu debate entre amigos e entre familiares. É curioso ver que entre amigos na maior parte das vezes registou-se um entendimento que eu acho que devia ser a posição de todo o homem: a mulher é que escolhe. A mulher é que passa por tudo, tem direito a escolher! Claro, não digo escolher um nome que o homem deteste, uma coisa abominável, mas devia abrir mão, fazer cedências.
Como dizia um amigo num lanche ao PAM: "happy wife, happy life". Ou outro, que lhe disse com muita franqueza, "eu não percebo o que te passou pela cabeça para achares que ias escolher o nome".
Era um lanche de amigos que fizemos para contar a novidade e a minha vontade era Carminho. Sim, não é Carmo, é Carminho e é permitido. No fim daquele encontro, já com pressão dos amigos, o PAM cedeu, fiquei feliz. Mas no dia seguinte traiu-me e disse que afinal Carminho não podia ser, mas que aceitava Maria do Carmo, que é a hipótese que está em cima da mesa e que mais tempo tem durado.
Inicialmente a criança já foi Inês durante as primeiras semanas, mas um dia cheguei ao médico, perguntou se já tinha nome e quando respondi Inês, soou-me tão mal, tão desajustado, que cheguei a casa a dizer "não vai dar!". É um nome que sempre adorei e não consigo colocá-lo em hipótese.
Entretanto lembrei-me de Leonor que foi um nome que sempre adorei. Inicialmente não chegou a ser colocado em hipótese porque do meu lado já existe uma criança Leonor e do lado do PAM, uma sobrinha. Mas às tantas comecei a pensar, a sobrinha vive fora do país, vêem-se poucas vezes por ano, o que é que isso interessa? Fará sentido rejeitar um nome que gosto pelo único motivo de já existir outra Leonor na família? Acho que não, mas como me quis poupar a filmes, não insisti, embora considere fortemente o nome no caso de vir a ter uma segunda filha.
Maria foi uma hipótese breve e, na falta de Carminho, Maria do Carmo está na mesa. Argumenta o PAM que se quiser posso chamá-la de Carminho de qualquer forma.
Maria do Carmo é uma amiga minha de infância. Entrámos juntas na escola aos quatro anos e estamos juntas até hoje. Com três filhos e um domínio do tema "crianças" que admiro, ela é provavelmente a amiga a quem vou pedir mais conselhos e não sei mesmo se não irá a minha casa dar ao PAM um curso intensivo de muda de fraldas, biberons, banhos e afins, que ele também a conhece desde criança. É de casa dela, que teve uma filha há cerca de seis meses, que estão a chegar sacos de roupa e um mundo de puericultura.
Há dias perguntei-lhe:
- Lembras quando éramos miúdas e eu dizia que se tivesse uma filha lhe iria chamar Maria do Carmo?
- Não me lembro mesmo...
- Não mereces a minha amizade!
Carolina, Sofia, Catarina e Matilde são outros nomes de que gostamos, mas não chegaram a ser considerados.
Se fosse um rapaz, teríamos apenas estas duas hipóteses e eu sei, sem sombra de dúvida, que o vencedor seria um Vasco. Tenho um por geração na minha família, adoro o nome, iria manter a tradição, não pela tradição, mas porque gosto mesmo do nome.
E dos nomes passamos aos apelidos que tem sido o que mais me tem deixado os nervos em franja. Ele não quer colocar no fim o apelido mais bonito que tem e eu, depois de descobrir que o apelido da mãe pode ir no fim, estou na missão de mudar uma sociedade tradicionalmente machista em que o nome do pai é o último e todos são conhecidos pelo nome do pai, para o nome do pai ser o primeiro apelido e no fim ir o da mãe. Se é possível, então quero inverter a história por um mundo menos machista.
Está o Carmo e a Trindade para cair. O machismo impera, mas só os homens parecem incomodados.
Apresentei quatro hipóteses de nomes completos (das quais não abro mão e que já vão com cedências da minha parte), mas aguardo há que tempos uma resposta do PAM.
Podem começar a fazer apostas, não sei se a criança sairá do hospital registada.